16 maio 2009

Mudança parada

   
       Tudo muda constantemente, o mundo roda, circula e gira, não pára, é como um ciclo boleado do nasce vive e morre, encetando uma vida de novo. Enquanto tudo cresce, o mundo é redondo, ele gira, não pára. Tudo se expande na direcção de um mundo distinto, mais merecido, mais moderno e cativo. Há sempre as novas ideias a volver veracidades, são projectos mais projectos que nascem do sonho do homem que enquanto dorme, materializa seu pensamento e conclui suas obras para depois, admirar com vaidade. São tantas mudanças, tanta evolução, tanto crescimento, são torres de cimento a fazer gaiolas com janelas a convidar-nos lá para dentro. Tudo circula e anda como o vento que não pára, tudo em busca de mais dignidade e esquecemos de ser melhores! A vontade universal que existe é imensa, mudar a própria mente seria girar o mundo às avessas e enquanto ainda existem corações gigantes que se enchem de amigos e de amor ao próximo com vista larga, que alcança a miséria que mora ali ao lado. Afinal, em cada esquina que passamos, há sempre alguém de mão estendida que pede ajuda para combater isto ou aquilo e a gente dá, não aceito que continuem crianças morrer à fome! Fala-se na solidariedade que de certo nem existe, dá-se o que se pode, às vezes até voltamos para casa sem aquele sapato giro que pretendíamos comprar. Hoje, dá-se para tudo e pede-se para tudo, uma demência que nos faz cogitar, que se nos propomos a dar os bolsos ficam vazios e não há destinos, porque ali o tempo não anda e a vida corre. A pena se agita por continuar a haver coisas paralisadas, demoradas, impossíveis de andar que não acompanham o mundo que gira e não pára e o ser humano só precisa ser igual! Se o grito traz "é preciso todos terem frigorifico", outros vão dizer que é preciso haver electricidade e outros ainda vão gritar que falta comida para meter lá dentro. Todo o ser humano precisa ter sapatos para caminhar, por isso nem todos andam como anda este mundo que gira e não pára, ali não há tempo e a vida corre. Há pessoas que esperam na berma da estrada, capazes de ficar por ali sentados no chão descalço, dia e noite, à espera que alguém passe, mas ali também não há nada, nem carros nem burros, ninguém passa, ali não há tempo e a vida corre! São mães a dar à luz sem condições, porque não há hospitais, não há estradas, acessos negados, não fáceis nem rápidos e os médicos demoram a chegar, quando chegam, já é tarde! Porque ali, não há tempo e a vida corre! Algumas crianças que nascem se perde pelo caminho, se não é mãe é filho a sair para o mundo doído. Mas não aceito que continue, crianças morrer à fome! Existe o rótulo “matar a fome” a perder destinos, que tomam outros rumos ou seguem sem validades. Porque o homem continua imperfeito e incapaz de melhorar e embora o mundo gire, o ser humano é pobre em permitir que, com tanta mudança, ainda haja no mundo, crianças a morrer à fome!

"Realidades"
por Rosa Magalhães