30 abril 2010

Adormecida ...

Projecta-me,
projecta-me das tuas mãos, delicadas
como se fossem aleluias, refinadas
ou aprazeradas alegrias, de rosas minhas
ou sábias letras encantadas, já consumidas.

Encontra-me!
Encontra-me por entre as poesias perfumadas
e cruza-me,
cruza-me nos mais belos e loucos poemas
plenos magias em imagens
e distrai-me numa forma grandiosa.
Distrai-me! Distrai-me como se fosse
um aglomerado refinado e fortalecido
em cada oceano vivo e vence-me,
vence-me nas verdades desta alma
pobre e insaciada e da morte,
da morte faz-me renascer num lindo dia.
Desvenda-me! E que todos,
os teus suspiros, sejam animados
a lembrar-te nem que seja num só pensamento
mas nunca, nunca me deixes por esses mares
desorganizados eternamente, adormecida!

Enganos

Fere-me se leve for,
teu nobre esquecer-me!
Já nada me prende...
Já nada me surpreende...
Senão este dom que tenho
de querer-te...
Fere-me! Se no lembrar-te
nada se repete, que não seja
um pedaço de nada!
Tudo me move a perder-te...
E se te ousares, linguagem de amor
traz pétalas de flor e perde-me de vez!
Sem ter de agradar-me...
... podem ter feridas as noites,
e os dias frio...
mas nada,
nada irá causar-me engano!

28 abril 2010

Imperfeito e humano

os defeitos falam certo em actos de verdade
como Deus escreve certo por linhas rectas
nós, entendemos tudo errado
nas limitações de risco usam-se máscaras
carregam-se lutas por dentro, quase equilibradas
domam-se feras entre os seres humanos
e há filósofos de sensualidade e de afecto
o mutuo é essência que se pretende esquecida
o corpo aspirado está a um passo
do objectivo programado
uma só ideia combinada
uma só visão apaixonada
entre o cosmos ancorado no imperfeito
e o ideal do distanciamento, fica a razão
e unem-se à mente numa vontade centralizada
se a natureza transforma já não há paz
já não há amor, nem dor
tudo avança em prol do errado
atrás das verdades, fantasiam-se reais fantasias
no desfolhamento da hipocrisia, o teatralizado
probo maior e coerente é pele de lobo
vestida de cordeiro
as tragédias são comédias
sentadas em rede balançada
prevalecem camélias soltas no ar do apego
o platónico e distante das verdades
é avesso de horas vãs
e na perdição, há a espera
de uma esperança germinada
que nunca foi sonhada, na verdade!

escrito a 27 Abril 2010

27 abril 2010

Cativeiro...

acordei com asas nos pés
e mãos atadas como os presos
nas celas do cansaço
vi gaiolas penduradas
com vidas e pássaros lá dentro
tremi o medo de olhar o espaço
foram dores cantadas
sem cordas de violas
foram sonhos pendurados
nas portas das gaiolas


acostumei à dúvida do estar
tão perto desse estado
e no brinde, ouvi
um simples estalar de dedos

recheei a coragem com falcões
e rapinas indolentes do saber solto nos ventos
e soltei-me os pés
voei como se as asas
saíssem de mim para bem longe
e fui de mim um cativeiro

Cedo demais!

Era tão cedo!
Cedo demais para acordar
hoje de manhã
acordei cedo
muito cedo
e saí tão cedo
não apetecia-me sequer
levantar.

Lá fora, era tão cedo
o sol ventava
era leve e sem hora
no despertar.


Hoje de manhã
era cedo demais para sair
acordei tão cedo
saí tão cedo
nem o vento
trazia som tépido
e nem o sol
tinha pressa de chegar
não quis voar...

Era tão cedo hoje de manhã
o despertador pôs-se a tocar
à correr tive de acordar
era tão cedo
cedo demais e saí
antes que fosse
tarde demais!

escrito a 26 Abril 2010

verdade do amor, existe?

remei por um amor escondido
com medo de perdê-lo
e perdi por escondê-lo
outrora
perdi por desvendá-lo.

por amor
plagiei um amor a alguém sem saber
e acordei a sorrir
por um sonho que nunca fiz!

por amor
vi passar horas
num espelho quebrado
e quis correr o mundo
na certeza de que falei verdades
e com verdades, menti!
fingi não chorar de dor
chorei de rir.

por amor
inventei lendas para fugir à chegada
tive sonhos envoltos de realidade
e silêncios atormentados!

por amor

tentei seguir o coração e amar pela metade
eclipsei a pedir socorro
à outra metade
tentei não divagar
e nunca soube como ajustar
fui bebida doce em licor amargo!

por amor
quebrei sapatos em pontas de facas
desatei os cubos de gelo do meu corpo
e de raiva detonei a crueldade!
calei a voz num sorriso
e depois
gritei
quase sufoquei!

fiz do amor feliz
mas não a mim nem tu a ti…
acreditei no amor absoluto
e por amor amei
e por amor perdoei
nunca ignorei a essência
de um amor de verdade!

escrito a 26 Abril 2010

14 abril 2010

Pedaço


um pedaço de ti
um pedaço de mim
dois pedaços de nós
um pedaço feliz
um pedaço sem ti
um pedaço sem mim
dois pedaços sem nós
um pedaço infeliz

Tenho vezes...

Tenho vezes que o ódio surpreende-me
e o amor abafa-o definitivamente!

Tenho vezes
que meus gostos
são desgostos
e o amor espreita
para que lhe sinta
o gosto!

Tenho vezes
que meu rosto fica caído
de tristeza e sem paz
até as cores do arco-íris
fogem como andorinhas
mortas sem voar
e o sonho chora
e o pensamento grita!

Tenho vezes que sou
um estranho ser dentro de mim
um pedaço de chuva amarga
a parecer dor
como natureza quase morta.