19 janeiro 2012

visão e várzeas


várzeas noites
visões e luas quentes
anjos mentes
diabos e palavras meigas
corpos quedos alados
enrodilhados
sortudos amados
sonhos diáfanos
e caminhos e água e mares ocos
tímido jogo e dedos loucos
pernas bambas
escadas calmas e abrigo nos cabelos
distante romance
num cerrar de olhos
exércitos no imo
vão e vem e matam
na metade dos pensamentos
tocamos universos
lindo amor apostas
calafrios na prova do vinho
antagónicos nós dois
tão iguais nas quimeras
e voz e juras
ímpeto da natureza
vive e abafa a natureza morta
os lugares abertos
conversas mansas
os sonhos tardios nas asas
a visão das várzeas


por Rosa Magalhães

10 janeiro 2012

Poema "Silêncio"



Editado por:
Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga
promovido melhor Poema da noite
no Encontro de Poesias
realizado no Dia Mundial de Poesias
no passado dia 21 de Março 2011.

de Rosa Magalhães
A tormenta!
     :moras no meu infinito!

Atirei-te meus sorrisos e beijos e corri
e rasguei-os em pedaços!
Agarrei-os de novo para mim
como se fossem embaraços de papel de vidro.
Eram meus.
Eram meus endereços quebrados, desolados
escondidos e de ti guardados.

Agora sou tormenta que me roubei da tua boca!
Queda lúcida que me inventei em mil desculpas.
Subir à montanha e deixar-me cair pelo fogo
levou-me para longe de ti e de lá
chamei-te em vão de dentro da tua tumba.
Não vi, nem a ti nem a mim
senão um destino aplanado num buraco fundo
falhado e sofrego.
Senão de mim a desistir
a ter de sair entorpecida donde voei por cima do céu!
Cego céu de tudo, donde fui personalista e donde
achei-me desiludida
por nunca mais deixar-me abandonada
assim, sem me amar em primeiro
mesmo com motivo de te perder
mesmo a perder-me da noite
e dos tantos pores-do-sol que vislumbrei na alma
dum amor que nada tinha senão o falar mais alto
zoado em ecos da montanha!

Nunca a chama saiu evidente.
Nunca um amor louco e adequado foi tão longe
senão deste inferno que a vida quis sorrir
e queima-me em lume brando, sem brisa
nesse entregado à fogueira, ateado e a fugir
como se fosse a correr
da combalida doutro mundo!
Outro mundo,
sem alma minha para querer achar-te de novo!
E para de ti de novo fugir-te
De ti ou da morte a deixar-me morrer
nos teus braços falaciosos, estouvados de abrigo?
Dum amor louco,
onde a paixão arde e morre sem chama!
Onde jamais poderei viver de novo!


Rosa Magalhães