30 junho 2010

Sozinha

Saí dali e vim para cá
agarrada a meus braços

A claridade do tempo, apressou-me
e nessa pressa que o tempo sempre traz
fiz-me sentar à minha beira

A sombra estava abalada
com a paciência que me algemava

Nos últimos sonetos que falei da vida
fui voz alta que a meu lado estava sozinha

Espera!
Disse-me eu naqueles dias amansados
a calmaria seguiu seu destino


Levantei-me de onde estava
saí dali e vim para cá novamente
ajudei o abraço que tinha dado
o dia finou-se turbulento de vento

Rosa Magalhães

29 junho 2010

R’s dos Sonhos


Quando fui maRé de ti. cheguei ao céu pigmentado de maR. o azul fResco da chuva pintado soltou-me e caí nas ondas adoRmecidas a velaR-te. na nuvem que me levava sonhei. dentRo de mim uma gota de sal. coRRi a passaR-me suRpreendente. meu eu ia no sentido contrário de mim. tRespassei o sol encobeRto pelos sentidos e fui a velaR ventos aRRastados numa gaivota que voava baixinho. disse - não sais daí?

Os gRitos que ouvi vinham de um gRão de aReia escondido dentRo do livRo decoRado com maRés vivas. o amoR bateu à poRta a fazeR-me cair naquela aReia. fiz-me passeio da liberdade. esqueci da maResia que soltou-se tuRbulenta como se ali fosse uma manhã de cinza. do azul já pintado de tinta fiz um abRigo. uma sensação declamada. os sons tocavam no fim do maR e as ondas vivas dispeRsaram. meus pés descalços penduRados e eu sentada num baloiço de beijos ondulados. sentimentos velados e uma bRisa que passava mais à fRente dos sonhos.

Os sonhos saíRam serenos quando deixei a maRé de mãos estendidas. dentRo de mim um vácuo de ondas peRdidas. a sensação foi no mínimo, estRanha. o cenário oscilado poR todo aquele maR pigmentado de céu estava à deRiva de um baRco paRtido. explode-me o êxodo da emoção que tRazia ancoRada. mas nunca andei peRdida.

Rosa Magalhães

26 junho 2010

Silencio-me

Tenho um punhado de alegrias nas mãos, estendidas
como se fosse a maratona fugaz que me acaricia, todos os dias
na busca do todo dessa existência de onde saio
é silêncio e, silencio-me!


Acredito no sol e calor tépido…
… acho o silêncio escuro, mas bonito.


Se parto, dele liberto-me em busca do ruído
esse ruído de onde peno-me e torno-me, cansaço
se me deixo ficar,
o meu grito soletra-me o simples do meu sossego
por isso fico. Fico, até quando quiser
é lá que vejo o teu olhar,
é lá que ando de braços cruzados no infinito…
… é lá que fujo,
para a outra margem do rio e rio
rio das tantas tranquilidades do rio
o rio de todas as vaidades
e mesmo que por engano corra, sigo,
mas não passo além do meu desejo
que me esconde,
o outro rio que corre lá fora de mim.


Se corro até mais à frente e se me agarro, paro
o silencio encalhado no tempo é preso nas margens
onde há galhos caídos e árvores mortas,
entre outros já afogados nas próprias lágrimas,
lágrimas que correm nos rios do teu sorriso
inquietude do meu sentir.

Sentires...

Enroupei-me de afagos teus
meus famintos!
Mimos desatados
olhares velados nos sentidos…
… sentires despojados
lembranças e deslizes.
Ousados, perfumados afagos e mimos
de onde fomos e, voltamos…
… já cansados.
Os ânimos, finados e inseguros.
Voltar é partir,
nas asas errantes e remamos
em voos arrojados
entre os cálidos e frios…

Rosa Magalhães

20 junho 2010

Peça "Nós, Pessoas"

“Nós, Pessoas” somos pessoas e como pessoas que somos pensamos, agimos e sobretudo: somos nós. Nós temos também parte dos outros que nos fazem mais nós, nós, ainda somos mais nós quando fazemos o que fazemos em “Nós, Pessoas”.

Espectáculo criado no âmbito do curso da Só Cenas, vem findar um percurso, mas mais do que isso é um pouco de todos os envolvidos e do seu trabalho, juntamente com uma grande paixão partilhada pelo teatro.

Textos:
Fernando Pessoa; Luís de Camões; Shakespeare; Florbela Espanca; Nicha Brandão Lavander; Rosa Magalhães; Patrícia Ferreira; Helena Rodrigues; Bella; Paula Fidalgo; Joana Chaves; Marta Ferreira.

ENCENAÇÃO:
Rita Burmester

ELENCO:
Nicha Brandão Lavander, Rosa Magalhães, Patrícia Ferreira, Helena Rodrigues, Bella, Paula Fidalgo, Joana Chaves, Marta Ferreira.

(escrito por Rita Burmester, Cartaz elaborado por um dos alunos da Turma de Famalicão que representaram a Peça (Ficamos assim) - "FiAssim")


No palco, a Magia acontece!



Ser ou talvez não.




Sei lidar com todos os partidos, todos os clubes, todas as religiões, todas as diferenças mesmo não concordando… porque sei, respeitar-me! Sou humana.
Não sei lidar com as injustiças, a hipocrisia, a violência, a covardia e falsas amizades, porque não sei, não ter sentimentos! Não sei não ser! E sou humana.

11 junho 2010

O amor está fora de questão!


Tenho-me
num traço atravessado entalado amarrotado
dentro do abandono que me dei
e um papel desistido
e um pedaço de tecido
e um lápis partido
como a transparência de um vidro
o amor está fora de questão!
- Disse-mo eu para mim…
... e eu não pude desistir.

09 junho 2010

Torta é esta vida!

Tortas almas que vagueais, atormentadas, pardais juntos às alvoradas...
A chuva cai!
Cai nas insónias, pestanas queimadas e poetas e dores e mares e olhares cansados!
Oh mares...
Mares que ides à deriva!
Barcos partidos, perdidos das águas bebidas e nuvens esquecidas e ventos,
ventos, outrora vindos ternurentos nas frívolas maresias...
... Areias desertas e caminhos temidos, sem vapor sem nó, sem corda, sem cordeiros!
Paz que a guerra arde nas mentes e feridas!
Tortas tardes!
Tortas almas!
Tortos pardais à chuva!
Torta é a chuva e as cabeças tontas!
Insónias, mares sofridos, violentos!
Bêbados famintos!
Tudo é esquecimento...
... Oh cruéis!
Que invadis olhares tristes!
Ruínas arruinadas!
Cantares sentidos!
Caladas folhas, do verde puro e puros campos...
... Árvores sedentas de amor e tontos amores!
Amores tortos!
Mundo torto que me inventa!
Torta é esta vida!