01 setembro 2009

O amor entre fadas e homens está condenado ao insucesso!

Elfos e Fadas

Dançava num circulo de folhas e surgiu-me um Elfo. A noite trazia lua cheia. E como rezam as lendas, para que não fugisse bastou-me soletrar um desejo para ser atendida. Enquanto as restantes Fadas, bailavam soltas e graciosas, apareci junto à lagoa onde o homem lavava um cavalo, tal e qual como Fada que aparece ao herói perdido que não resiste a esquecer outras paixões terrenas e se entrega à paixão de corpo e alma. Apaixonado pelo fascínio mantém um ar inexplicável, oferece diamantes num pedido de casamento, e sem saber que ambos pertencem a mundos diferentes onde os encontros apenas se realizam entre as fronteiras, o homem coloca toda a fidelidade à prova, numa paixão sem sucesso! A Fada tem regras simples e o homem, entende isso como caprichos, acaba por não dar a devida atenção e quebra seu juramento, perde para sempre o amor da Fada, deixa de fazer parte do reino, abre a porta dos encantos e volta a ser um pequeno mortal a vaguear no mundo como alma penada até morrer de nostalgia e tristeza. A Fada desaparece e o homem fica entregue à sua sorte. Além das Fadas que buscam o amor dos homens, também há os Elfos que buscam o amor das mulheres de carne e osso! Vê-se nitidamente no jovem de olhos negros, que seduz as mulheres solitárias no cair da noite, com suas palavras. Pobres são as mulheres que se deixam abraçar por eles, pois acabam por morrer, depois que eles saciam suas carícias. Também existe, aquele que se vinga cruamente de uma mortal que lhe tinha jurado amor. O Elfo desaparece por sete anos, cansada da espera encontra outro amor, depois ele volta e faz de tudo para a seduzir de novo e foge com ela no vento mágico, mas aí vem a tempestade e o amor afunda-se e morrem! Os Elfos nem sempre são jovens, aparecem com alguma deformação física, uns com barriga, outros de pés tortos e outros estrábicos.


No amor entre Fadas e homens, Elfos e mulheres, está sempre presente a tragédia pelo insucesso ao amor entre dois mundos diferentes! Estes são os espíritos da natureza!
Quando o amor fica eterno, é quando ambos pertencem ao mesmo universo!
Texto reflexão, elaborado numa pesquisa de Fadas e Elfos. Dois seres incrivelmente brincalhões, sensíveis e apaixonados em busca do amor, despertam paixões arrebatadoras e a atracção torna-se mútua e irresistível, mas sempre podemos escapar desse amor louco!

Rosa Magalhães

Acordei, com o cúpido morto ao meu lado!


Surrealismo
Aterrei na ilha dos amores, uma ilha agoirada por assaltos de anjos clandestinos e armadilhas ousadas de bipedos sonhadores transformados em cúpidos. Na escalada da noite, chegou por engano um anfíbio de asas presas nos músculos, outrora roubadas aos anjos. A Ilha carregava amores silvestres, os anjos sobrevoavam soltos a prender todos os sorrisos que levaram para longe... meu amor lacrimejava de embrieguez enquanto dormia, a lua erguida-se lá no alto a iluminar a noite dos fascínios loucos, atributos físicos aterrados num engano. A ilha fascinante, de amores proíbidos enganados pelos cúpidos, era um teatro mal afamado de fobias voadoras, a subir até às sombras por entre feras e melancolias sofregas de contentes, enquanto os anjos largavam estrelas cadentes e setas á toa... ouviam-se barulhos estranhos a cair com o vento que trazia de volta, imagens nuas de cúpidos sem asas, todos fugiam das setas como diabos soltos, algumas já cravadas nas costas deles mesmos. Sofri a tua ausência. Na falta de asas, fiquei distante da lua e no peito guardei uma rocha de abrigo. Das setas que os cúpidos lançavam, soltavam-se penas e malícias a espirrar letras nas poesias minhas. As setas perdidas seguiam direcções erradas. Os anjos corriam atordoados a segurar as que sofriam pequenos desvios, surgiu o caos e as setas velozes de magias, arrastavam os anjos para longe. Na ilha vagueavam outros abstroncios sem flores, sem perfumes e sem beijos a cantarolar os amores ausentes, como minhas pétalas caídas nas aguardentes. Sonhadas delícias, sem asas suspensas sobre poemas meus. Os poetas ousados encostados á falesia, repousavam melancolias na espera do amor invasivo que tardara. Vi-me no meio da solidão. A ilha dos amores já ressonava com a própria ausência. Nas laranjeiras em flor, empuleiravam-se macacos amarrados, de unhas e dentes aos sentidos das cumplicidades. Das morfologias retirei meu alento, inventei outras asas sem mim, os cúpidos morreram de contentes. Ficaram palavras amargas e as mais fervorosas, fermentaram a minha mente, vi letras como estrelas cadentes sustentadas no vazio trazido pela lua, vi carruagens de andorinhas aguçadas por outros sentimentos, mais ternos mas devoradores de todas as letras. Esqueci o sono no cinzento da noite, os cúpidos esqueceram de mim e as setas que voltaram ao ponto de encontro, de onde partiram, foram puros enganos, o amor foi atirado ao devaneio desvio, deixou de permanecer no infinito do desejo! Hoje, sem cúpidos e sem anjos, sem asas e sem amor caminhamos na ânsia, morreram todos os cúpidos e o amor é exagero! Acordei,com o cúpido morto ao meu lado!

Rosa Magalhães

Tempo sem fim, a esperar-te!

 

Subo ao fulgor do teu corpo,
num passeio de labirintos teus,
infindáveis muros meus,
amarras sorves!
Enquanto a música lura dos ecos,
é carícia a arder-te de novo
na ânsia ténue de amor louco,
prende-nos um só corpo.
Bradas emoções guardadas,
outras doutrinas,
somáticas horas
na espera de sonhar-me de novo!
Teu silêncio, meu silêncio que silencia
escassa de ti, preciso-te!
Sobrevivo das palavras a perder-te,
perco-me nos teus olhos
aterrados de cerimónia
de amor e festa,
brindo à tua procura!

Teu rosto grita meu grito
a procurar-me a boca,
trémula, que vai dizendo loucura
mas a razão que não tenho,
arranca-me emoções
e solidão sofrida!
Falta, meu amor,
o fogo da tua presença.
Teus colarinhos brancos
enxugam lágrimas juradas,
do amor que me atiraste
num acto sagrado e inquieto!

Conto as noites
que tardam e passam.
Perdi-me em ti
nos minutos que não te tinha.
Na jura de amor que te disse,
a outro não me entregaria.
Sobrou o tempo
sem fim que passei
a esperar-te!

Rosa Magalhães

Silêncio



Estou surda,

já nada ouço senão o meu eco
Estou muda,
já nada falo
senão o meu silêncio...
Estou cega,
já nada vejo
senão o meu sentir,
quase a medo...

Rosa magalhães

Delonga insípida

A vida,
sempre traz mais á frente
aquilo que mais atrás
não chegou.

Míngua de dor
excesso de calor
intrujada por amor…

Equimose de marca
Incauta de novação
a carecer de um verão
e sonho meu, meu amor.

Vida,
vereda e caminhos
presos destinos
na palma da mão…

Vidas cruzadas
hirtas encruzilhadas
memórias entorpecidas
ambiguidades embebidas
no dia
que o vento disputou
e tudo levou.

Desejos términos
palavra amor
soletra alma com dor
idolatra-me a ti depois…
Arte da vida
a carregar plangente
esta raia erudição…
Rosa Magalhães

Febre A

Escuta!
Ouço vozes lá no fundo do corredor…
E vejo olhos moribundos
que calcinam os sentidos!
E braços sôfregos
que baloiço em afagos…
Como fios presos no vento
da voz que me cala, escuta!
Ouço passos!
Passos que passam por aqui, bem perto.
Parecem-me sorrisos vadios,
entrelaçados no meu pescoço.
Ai esses teus ousados zelos… escuta!
Ouve o que te digo!
A culpa arremessada não foi minha!
E a memoria, é tua presa
ali na cortina encarnada
Que segura a janela do meu quarto…
Os pecados acorrentados
já te foram perdoados!
Escuta!
Trazes no peito os amores mais cómodos
Ai os amores, já foram esquecidos…
Tudo não passa de temperos equivocados…
Ouço tardes de insónia
dentro de miragens, e febres
Lebres a golpes de armas dentro das bagagens.
Parei de escutar! Estou surda!
Não vejo o que digo!
Só vejo quimeras absurdas,
ilusões de arames farpados
A rasgar minha roupa de utopias exageradas.
Escuta! Olha os paradoxos apaixonantes
em breves instantes
Não ouço nada!
Só cheiro sanidades e causas
estão mortos!
Estão todos mortos!
Os sentimentos fugiram
Com farpas cravejadas no peito!
Onde vais? Fica, dá-me a mão…
Trazes a mão atónita!
Já não miro nada, nem tempestades…
Estou cega!
Só passam coragens feridas
diante dos meus olhos…
Ouve! Escuta se me queres
nas palavras perdidas lá fora
Pela calçada anda o sopro arrebatado
nos corações minguados.
És Imbecil que arde
dentro desta moralidade.
Os sentimentos parados, já nem sinto!
Podes matar-me á vontade!
Estou já do outro lado!
Rosa Magalhães

Mal me quer Bem me quer

Um dia afadiguei! Chamei a solidão ao pé de mim
brindei-lhe um arrombo ousado e arremessei-a
no agro da amargura, e regressei sem ela…
Trouxe comigo a angústia que malhei
abafá-la junto ao peito senti que não cobiçava
ceder-lhe a mão, insultei-a do quanto mais pude
… fui rude
mas ela não se afrontou…
Permaneci queda e calada
do peito não saiu ela, mordi-lhe a orelha
por me ter irritado…
… gritou de dor
a mágoa distou mais rija
agredi-a e quase morri de sofreguidão
por não encontrar a minha razão e pensei
ter perdido meu pedaço de pão,,,
Vivo com vida, calhei o perdão
abracei o sorriso, que me quis dar a mão
feliz caminhei pelo meu senão
á procura do meu bem-me-quer…
Mas só me ocorreu o mal-me-quer
que chateei na confusão
e xutei pra longe desta aflição
fragmentei o meu ego
vi o ódio sorrir sozinho
bem no meio do meu caminho…
Cerquei-me frágil e sem destino
das letras de amor que soletrei
permaneci ausente de mim por algum tempo…
esperei pelo vácuo da ausência
dor a marchar perdida na berma d’uma estrada
a mente vizinha estava e o dia lindo
… era verão, tudo esquecido
Tive sede, bebi do rio a água límpida
transformei a flor em pétalas largadas
mergulhei no horizonte…
… encontrei-me adormecida
em cima de um rochedo
cinderela na delonga do beijo…
Veio o calor a trazer o bem que matou o mal
a dança de geleira, viu-me entre espadas e armas
a rabiscar poemas sortidos de amor e esperança…
Rezei…
mas minha reza foi em vão
com fervor me iludi
em tamanho sentimento de dor que vivi da ilusão
… tudo esqueci na solidão.
Dentro do sofrimento
lavei lágrimas de crocodilo
apertei-me contra o mundo
dos abraços fortes ouvi gritos tórridos
que entoou horizontes…
… e enfeitei-me de bem-estar.
Fiz das palavras luzes e dos amargos doces
ao mal, atirei-lhe o bem e fechei-o num choro
Soltei brados ao vento, chegaram ecos fortes
Atirei-me aos teus braços e amei-te como um louco...
Rosa Magalhães