01 setembro 2009

Acordei, com o cúpido morto ao meu lado!


Surrealismo
Aterrei na ilha dos amores, uma ilha agoirada por assaltos de anjos clandestinos e armadilhas ousadas de bipedos sonhadores transformados em cúpidos. Na escalada da noite, chegou por engano um anfíbio de asas presas nos músculos, outrora roubadas aos anjos. A Ilha carregava amores silvestres, os anjos sobrevoavam soltos a prender todos os sorrisos que levaram para longe... meu amor lacrimejava de embrieguez enquanto dormia, a lua erguida-se lá no alto a iluminar a noite dos fascínios loucos, atributos físicos aterrados num engano. A ilha fascinante, de amores proíbidos enganados pelos cúpidos, era um teatro mal afamado de fobias voadoras, a subir até às sombras por entre feras e melancolias sofregas de contentes, enquanto os anjos largavam estrelas cadentes e setas á toa... ouviam-se barulhos estranhos a cair com o vento que trazia de volta, imagens nuas de cúpidos sem asas, todos fugiam das setas como diabos soltos, algumas já cravadas nas costas deles mesmos. Sofri a tua ausência. Na falta de asas, fiquei distante da lua e no peito guardei uma rocha de abrigo. Das setas que os cúpidos lançavam, soltavam-se penas e malícias a espirrar letras nas poesias minhas. As setas perdidas seguiam direcções erradas. Os anjos corriam atordoados a segurar as que sofriam pequenos desvios, surgiu o caos e as setas velozes de magias, arrastavam os anjos para longe. Na ilha vagueavam outros abstroncios sem flores, sem perfumes e sem beijos a cantarolar os amores ausentes, como minhas pétalas caídas nas aguardentes. Sonhadas delícias, sem asas suspensas sobre poemas meus. Os poetas ousados encostados á falesia, repousavam melancolias na espera do amor invasivo que tardara. Vi-me no meio da solidão. A ilha dos amores já ressonava com a própria ausência. Nas laranjeiras em flor, empuleiravam-se macacos amarrados, de unhas e dentes aos sentidos das cumplicidades. Das morfologias retirei meu alento, inventei outras asas sem mim, os cúpidos morreram de contentes. Ficaram palavras amargas e as mais fervorosas, fermentaram a minha mente, vi letras como estrelas cadentes sustentadas no vazio trazido pela lua, vi carruagens de andorinhas aguçadas por outros sentimentos, mais ternos mas devoradores de todas as letras. Esqueci o sono no cinzento da noite, os cúpidos esqueceram de mim e as setas que voltaram ao ponto de encontro, de onde partiram, foram puros enganos, o amor foi atirado ao devaneio desvio, deixou de permanecer no infinito do desejo! Hoje, sem cúpidos e sem anjos, sem asas e sem amor caminhamos na ânsia, morreram todos os cúpidos e o amor é exagero! Acordei,com o cúpido morto ao meu lado!

Rosa Magalhães

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