30 outubro 2011

sede de desejo

Quero uma terra com árvores e com mar
sem edifícios de ferro e sem pessoas apressadas a passar.


Quero um espaço simples
onde o silencio canta e é belo…
… um espaço sem cabelo
sem carros nem buzinas para me aborrecer.

Quero o silêncio
melódico como um riacho que canta
tão simples como a simplicidade santa
dos que sentem mero anelo de existir.


Quero,
uma terra sem diferenças

sem poderes.
Uma terra de esperanças e sonhos para viver!
Onde eu possa um pôr de Sol admirar
o numero de vezes que eu quiser!
Mesmo que depois de muito tempo
meus olhos achem banal esse querer.
Quero,
adoptar partes do teu amar…
num só modelo de amor o mundo desfrutar
e saber como é bom sentir o ego a vibrar.

Quero as palavras carnais e quero
que a força me deixe emergir nesse respirar.

por Rosa Magalhães

07 outubro 2011

Fim

Julgue-se que o veredicto deste elenco enceta pelo fim a casar a filha da Viscondessa da torre,
“e foram felizes para sempre”.
Tiveram sete filhos antes de casar e o padre da aldeia coagiu-os a solenizar votos legais para zelar o bom nome da génese. Aparte isso, jamais algum nascimento se realizou naquele amor colossal, adornado por um Bonsai situado à chegada…
Já a Viscondessa, coitada, vivia afligida pela agonia que o amado da filha trazia ao castelo, pelo bom nome usava ao pescoço um fio que pendurava uma cruz adornada em ouro para escudar coisas que não faziam fama imponente.
Tais malefícios nunca soaram tão grandes como naquele dia, embora voassem de boca em boca a aldeia nutria-se dos malditos enxames filtrados na torre da Viscondessa. Uma praga!
Uma praga pior que erva daninha e nunca alguém se atreveu a chutar dali as tantas abelhas que figuravam a impedir o guarda de lá entrar e isso causava pavor no castro belo.
Esse tanto amor que desabrochara naqueles olhos nunca cuidou estar em pecado perante a lei de Deus.
Josefino, o amado de Maria filha da Viscondessa da torre, sobejara o padre quando este sitiava frente aos convidados,
“Agora podeis beijar-vos!”
Antecipou-se e beijou a amada.
De facto ninguém tinha nada a ver com o caso apesar de ter-se tornado um caso ébrio na realeza e mesmo assim Josefino sem perder seu galanteio, impôs-se a não consentir que o padre tomasse tamanha anuência nem o humilhasse debaixo de tantos olhos e deixou todos de boca aberta.
Maria não pensava na mesma feição.
Carregava um sonho quase impossível devido ao avançado pensar do seu amado. O sonho que a movia tornara-se num amor quase afundado no rio onde tantas vezes banhou seu corpo junto dos lindos nenúfares. Se não fosse a Viscondessa tomar partido para dizer um basta, ainda hoje não haveria nobre história para contar e nem a Viscondessa acelerada espicaçaria o Senhor padre, na verdade deixou toda a redondeza num suspiro de aliviada por tão agradada postura.
Ao entardecer juntaram-se todos no adro da Igreja e uma jura feita suscitou Josefino, o povo trazia tochas em chama pois viam naqueles dois um amor proibido e triste, mas é sempre assim que acontece nos olhos de fora que sempre vêm as coisas desacertadas.
Antes do nascimento do primeiro filho, Josefino era admirado por sua sogra a quem bajulou sinceridade e na sua presença jurou fidelidade à sua amada,
“até que a morte nos separe”.
Depois, depois gritou no altar entrelaçado à questão dúbia que o prendia. Tamanho sentir causou-lhe dor no peito e deu-lhe à ideia, um nunca mais na sua vida ousar olhar outras flores que não fosse as lindas flores do jardim da sua amada.
Na verdade, Josefino deixou-se deambular noutros jardins que não o dele, mas isso acontecia antes do fatídico dia a seguir à folga no tempo do exército, quando afogou todas as mágoas numa garrafa de vinho e adormeceu abraçado a um vaso junto à soleira da porta de Maria.
Esse foi o ponto forte fraquejado por Maria, uma vez que espontaneamente já se sentia conquistada por Josefino.
Por uns dias conseguiram esconder tamanha sanidade, mas quando a voz soltou a garganta do jornaleiro que passava na calçada sempre à mesma hora, o coração da Viscondessa partiu-se em pedaços ao saber da sorte talhada que Josefino traria à sua exígua menina.
- Este rapaz nunca fora exacto! (disse)
Mas era bem-parecido, era alto e moreno e junto disso a sua graça de maiúsculos olhos num rosto muito sardento e um sorriso que transmitia alegria. Era bem acolhido, como se fosse sempre um menino prestes a ficar de cama à espera que as bolinhas vermelhas corressem corpo a fora para sentar-se e estudar.
A professora admirava-o por ser o melhor aluno da escola. Era simpático e ágil nos grandes feitos, controlava outros meninos que jogavam à bola. Um dia confessou ter esquecido o jogo. Foram tantas as vezes que a bola ficou enfiada no telhado da vizinha da escola, a velha que sempre vinha à janela asnear tamanho dano, ficava branca de tão esbaforida pela respiração entrecortada. Afinal, Josefino ainda nem tinha idade e como a mãe estava sempre por casa a costurar e a fazer rendas a troco de umas coroas, nunca precisou sair das saias da mesma. Era ali que ouvia lindas histórias que a mãe lhe contava, inclusive os apólogos duma Viscondessa da torre que tinha uma bela filha de nome Maria prestes a casar.

Histórias…
… Histórias de encantar, ou não!

Essas continuadas que acendem a alma e ainda avivam memórias do Josefino desde o momento que viu pela primeira vez, uma luz branca, enquanto nascia.


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por Rosa Magalhães  (escrita livre)
(texto enviado ao Jornal Correio do Minho para publicação no "Conta o Leitor" em Agosto 2011)

05 outubro 2011

sou Inverno e Verão

transpiro como a fonte
tremo como o gélido frio
pareço água do rio...
em pleno Verão de Inverno
procuro a culpa
só encontro o culpado:
- ar condicionado
e os excessos
e os extremos da mente humana
... ora está um calor insuportável
... ora está um frio polar indesejável
uns querem
outros não
e enquanto isso,
as duas poderosas estações do ano
unem-se a invadir-me numa só palavra:
- doente.

há falta de equilíbrio nas vontades humanas?


cada um devia ter um aquecedor em cima da cabeça
e um arrefecedor debaixo da cadeira
e um botão on/off que possível fosse
para não incomodar quem está ao lado...

civismo e a falta dele?


Rosa Magalhães