01 setembro 2009

Febre A

Escuta!
Ouço vozes lá no fundo do corredor…
E vejo olhos moribundos
que calcinam os sentidos!
E braços sôfregos
que baloiço em afagos…
Como fios presos no vento
da voz que me cala, escuta!
Ouço passos!
Passos que passam por aqui, bem perto.
Parecem-me sorrisos vadios,
entrelaçados no meu pescoço.
Ai esses teus ousados zelos… escuta!
Ouve o que te digo!
A culpa arremessada não foi minha!
E a memoria, é tua presa
ali na cortina encarnada
Que segura a janela do meu quarto…
Os pecados acorrentados
já te foram perdoados!
Escuta!
Trazes no peito os amores mais cómodos
Ai os amores, já foram esquecidos…
Tudo não passa de temperos equivocados…
Ouço tardes de insónia
dentro de miragens, e febres
Lebres a golpes de armas dentro das bagagens.
Parei de escutar! Estou surda!
Não vejo o que digo!
Só vejo quimeras absurdas,
ilusões de arames farpados
A rasgar minha roupa de utopias exageradas.
Escuta! Olha os paradoxos apaixonantes
em breves instantes
Não ouço nada!
Só cheiro sanidades e causas
estão mortos!
Estão todos mortos!
Os sentimentos fugiram
Com farpas cravejadas no peito!
Onde vais? Fica, dá-me a mão…
Trazes a mão atónita!
Já não miro nada, nem tempestades…
Estou cega!
Só passam coragens feridas
diante dos meus olhos…
Ouve! Escuta se me queres
nas palavras perdidas lá fora
Pela calçada anda o sopro arrebatado
nos corações minguados.
És Imbecil que arde
dentro desta moralidade.
Os sentimentos parados, já nem sinto!
Podes matar-me á vontade!
Estou já do outro lado!
Rosa Magalhães

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