28 agosto 2011



Texto de Rosa Magalhães publicado pelo Jornal Correio do Minho no mês de Agosto 2011, em "Opinião - Conta o Leitor"
escrita livre baseado em imagens reais.


"Deixem Viver os Macacos"


Devia-se fazer ardis sobre a humanidade sem torturar os macacos! Os bichos têm índole e alma e amargam tanto como os humanos, não são estafetas para o efeito. Então, não lapidemos os limites! Agora que a cidade está apeada por batalhas da individualidade digam-me se é brilhante! Macaco não faz tanta crueza assim!

Agora? Perguntas-me agora?

Olha, agora limpa a cidade que metamorfoseaste de aterro e dá-lhe luz com sabor e dispõe de mais macacos a viver lá dentro. Sim macacos! Macacos porque além dos humanos em vias de extinção só restam macacos!

Não percebo. Não percebo porquê tantas boninas por todo o lado. Decerto algum favorito mereceu o mundo. É lindo o gesto da humanidade que sente, mas humanidade que sente de verdade evita tão alheada pena. Esqueceram o fôlego vital cuspido na própria língua, a Animalia é pior que pena de boninas, pura dor no cotovelo!

Olha, olha só no que deu! Se havia crise no mundo agora já não há!

Hoje parece-me bom dia p’ra chorar abundância.

Ceifaram-me os jardins e agora doem-me todos eles.

Sei que não carece ser baboso mas é urgente aprisionar gestos mal ditos e mal feitos. Ser rebelde não é o mesmo que ter rebeldia por dentro! Perde-se a classe por tão pouco tempo e ganham-se graus de pessimismo que vai de fora p’ra dentro. Depois, depois há prazos de jejum p’ra tirar da cabeça todas as eloquências!

Não sabes, mas há uma roda-viva com anéis difusos no ar a expiar-nos. Inalamos sem ofuscar essa barreira e um dia todos vamos circular neles como prova de reconhecimento, ou então, como amargurados calos no cu dos macacos que nada fizeram para mudar a humanidade. Foi lá que encontrei aquele ser fero de futilidade, quimérico lance sustentado no pranto da ciente humanidade.

Humanidade…

… Humanidade que faz dos macacos cobaias à força sem apanágio! Já não há conserto para os brinquedos como antigamente. Nem tónicas fábricas de bonecos, todos são descartáveis.

Como poderia a humanidade recuperar humanos! Transformar macacos em humanos não seria de todo orar na paciência, o homem há-de ser sanado por tanta coisa errada.

A natureza reclama dentes brancos.

Adoro dentes brancos e unhas bem cuidadas. Ser bem-educado de expressão é gostar de ser amado mas entre nós não há amor correspondido, apenas um bem-estar e para finalizar o que digo, uma lassidão de guerra fria.

Vamos sorrir, baixaram as armas!

Há falta de soma por isso, baixemos a cabeça num simples gesto, como se mordêssemos o salgado da bolacha quebradiça.

Desde muito cedo vê-se carros verdes a circular aqui na rua.

A rua contusa de tanto omitir civis desocupados à janela, surrando a vida alheia num retrato pintado, família que aufere favor de aplicados iguais a eles mesmos, na diferença está a dignidade do ser e fazer enquanto os dadivosos acatam melhores dias caso as vendas trepem em massa.

Como eu queria voar em queda livre e sentir melhor ar, mesmo que fosse a fugir-me das mãos e do senso por não conseguir agarra-lo. Ver de cima macacos que miram macacos e invadir-lhes a essência de que hão-de ser lavados, o mundo é justo! A vida é um eco que se faz no agora e ouve-se mais tarde.

Esta manhã vou comprar o jornal que traz em foco, um título escrito “macacos em perigo”. É preciso mais inteligência de macaco no cérebro humano e não o contrário senão ele acaba em demência! O mundo é rico e ninguém adorna naturais poções mágicas tão elevadas. Há barreiras acabadas na vez dessa liberdade e em todo o lado há humanos que as dissipam.

Abram as comportas!

Deixem escoar riachos até aos rios!

Deixemos que corram até ao mar… mesmo que distante. E se os peixes virem humanos na praia, de canas enfeitadas na mão e nos pés sapatos com meias, será o sinal de que a humanidade só medrava se lhe fosse incutido a inteligência do macaco!

Que façam praxes neles mesmos e que acabem a verdade!

Quero crescer dentro dos parâmetros aceitáveis da normalidade mais humana! O ideal seria a humanidade parar nas ilusões e despertar bons hálitos, mas já é madrugada e a noite já causou a saudade dos velhos tempos de mãos dadas, agora só o espírito da Tequilla que moderna a vida e levanta a alma!

Há humanidade dentro do reino dos macacos. Há macacos dentro dos humanos e nada pode ser apartado do mundo que se espera.


Rosa Magalhães

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