05 janeiro 2011

- porque haveria eu de ir embora?


Tão somente quis a ânsia de mim
rasguei falas sem pudor e num som
tive o ar fatigado que balançou-me a razão
aqueci aquela tarde no teu peito que forte batia
enquanto meu coração respirava
tuas mãos nas mãos o que me tocava
- porque haveria eu de ir embora?

Tão somente quis no meu estar
teimosia a invadir-me lembranças
não deixei que o ar me levasse
e o fulgor trespassou o som das palavras
e o ar respirava manso sereno e equilibrado
- porque haveria eu de ir embora?

Tão somente quis o eterno que me amostrasse
no meu ser um sabor de criança
ao som do mar que falei de ti a mim não consegui
perante tão mar de saudade que por ti a chama acendia
voei a deixar-te o sonho na lembrança
- porque haveria eu de ir embora?

Tão somente quis o esmero esboçado
desse dia o ar aprume me vencia na memória
depois do adeus não pude dizer-te mais nada
de tão sufocado cheiro a sagaz do campo
entrementes bulia o ciciar quase ofegado
tu e eu morríamos o bálsamo da madrugada
- porque haveria eu de ir embora?

por Rosa Magalhães

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